domingo, 14 de setembro de 2014

Capitulo 2



Meu pai tinha quarenta e cinco anos. Era um homem respeitoso e trabalhador. Possuía uma cafeteria, cujo eu, Rachel e mamãe ajudávamos. Era branco, meio gordinho e careca. Tinha um metro e oitenta de altura. Eu era dez centímetros menores que ele, apenas. Minha mãe era treze anos mais jovem que meu pai. Era negra, magra, e sempre se gabava por pesar cinquenta e sete quilogramas. Era mais alta que eu apenas oito centímetros. Seus cabelos eram pretos e baixos. Sempre brigava com ela, pois parecia um homem com aquele corte. Ambos estavam com pijamas, o que me fez ficar morta de vergonha. O que iam falar de mim com pais tão bregas?

- Então é aqui onde você faz trabalhos com April todo mês? –mentia sempre para meus pais, afirmando que iria estudar e fazer os deveres com April na casa dela quando na verdade vínhamos à Pleasure. A roupa que eu iria usar na boate, trocava na casa dela. A família dela não se importava e nunca contou a minha. April sempre me ajudou a mentir para meus pais. Minha irmã mais nova, Rachel, de treze anos também os acompanhava. Ela tinha um metro e cinquenta e seis de altura. Era branca e magra. Seus cabelos eram longos e castanhos. Tinha olhos azuis lindos como o céu. Seu nariz era um pouco pontiagudo, mas tinha um rostinho que parecia ser de porcelana.

- Eu juro que posso explicar. –falei levantando as mãos como se faz quando é abordado por um criminoso.

- Com essa roupa?  

Eu era fruto da primeira relação matrimonial de minha mãe. Parecia com ela, pois era negra, magra - pesava apenas cinquenta quilos-, meus cabelos eram pretos e encaracolados, mas não passavam dos meus seios. Tinha que admitir: possuía belos e grandes seios. Meu nariz era pequeno e achatado na ponta. Usava uma blusa com alças Pink, uma minissaia jeans e saltos rosa claro. Não gostava de usar maquiagem, pois acreditava que as mulheres deveriam expor a beleza natural que possuíam. Rachel, minha irmãzinha, era fruto do segundo casamento de George, nosso pai. Comportávamos-nos como uma verdadeira família no quesito união. Meus pais eram muito unidos.  

- Vamos pra casa agora, mocinha!

- Pai...

- Eu não acredito que você está mesmo insistindo em ficar, Tracy. –gritou minha mãe revoltada.

Fiquei em silencio, abaixei a cabeça e fui indo para o carro, estacionado a poucos metros da Pleasure. Era um calhambeque preto. Eles vieram logo atrás. Eu e Rachel ficamos no banco traseiro. Meu pai deu a partida e saímos.

- Estou decepcionada com você, Tracy. Muito decepcionada. –falou-me através do retrovisor.

- Era apenas uma boate, mãe.

Colocando a mão esquerda na testa, afirmou:

- Céus! Eu não estou ouvindo isso. –minha mãe estava indignada.

- São as amizades dela, Tânia. Companhias más corrompem bons costumes. – Estranhamente meu pai não estava tão bravo como ela.

A Pleasure ficava na entrada da cidade, mas as casas ficavam alguns quilômetros após. Nossa casa ficava muito distante, mas como eu e April pegamos carona com uns caras, nem me importei.  A estrada era repleta de árvores grandes, o que a noite, como agora, deixava-a muito assustadora. Não havia ninguém alem de nós ali. O silencio reinava dentro e fora do calhambeque. Fiquei repensando minha atitude. Não me considerava errada, afinal só queria me divertir. Além dos mais na primeira oportunidade estaria de volta a boate. Não muito longe, avistamos um homem. Ao ver nosso carro, acenou.

- Papai é melhor não parar. –minha irmã menor, Rachel, era muito medrosa. Falou bocejando, pois estava sonolenta e dormiu rapidamente depois de falar.

- Não precisa ter medo, querida.

O homem era velho e aparentava ter uns quarenta e dois anos. Era calvo com o rosto cheio de traços e rugas. O bigode era a estilo the moustache. A testa era muito marcada, aparentando estar sempre franzida. Possuía uma bolinha atípica no meio da mesma. As sobrancelhas eram pequenas e bem feitas. As orelhas, minúsculas. A cor dos cabelos e bigode lembrava o grisalho. Não conseguir ver muito bem a cor dos olhos, mas parecia cor de mel. O meio da cabeça dele era de fato vazio, dando a impressão de possuir chifres. Seu olhar me assustava, tanto quanto o sorriso que fez assim que meu pai parou.

- Posso ajudar senhor?

- Não sei como, mas meu carro derrapou e saiu da pista, indo parar entre essas arvores há alguns metros daqui. Pode me ajudar? –Não acreditava nesse velho. Para completar sua voz era muito grossa, o que dificultava ainda mais confiar nele. Porque um idoso, sozinho, estaria a andar a carro, correndo risco de morte e à uma hora dessas? Além disto, estava muito escuro. Havia apenas a luz da lua.

- Claro. –eu não estava acreditando no que ouvira. Sempre víamos nos noticiários e jornais pessoas mortas das mais bizarras formas por assassinos em série, mas como nossa família era puritana, logo meus pais deviam estar tentando “ajudar ao próximo”.

- Entre e lhe levamos até lá. –neste instante meu pai destravou a porta e ele entrou. Sentou-se justamente ao meu lado direito, no esquerdo estava Rachel dormindo.

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