Meu pai
tinha quarenta e cinco anos. Era um homem respeitoso e trabalhador. Possuía uma
cafeteria, cujo eu, Rachel e mamãe ajudávamos. Era branco, meio gordinho e
careca. Tinha um metro e oitenta de altura. Eu era dez centímetros menores que
ele, apenas. Minha mãe era treze anos mais jovem que meu pai. Era negra, magra,
e sempre se gabava por pesar cinquenta e sete quilogramas. Era mais alta que eu
apenas oito centímetros. Seus cabelos eram pretos e baixos. Sempre brigava com
ela, pois parecia um homem com aquele corte. Ambos estavam com pijamas, o que
me fez ficar morta de vergonha. O que iam falar de mim com pais tão bregas?
- Então é
aqui onde você faz trabalhos com April todo mês? –mentia sempre para meus pais,
afirmando que iria estudar e fazer os deveres com April na casa dela quando na
verdade vínhamos à Pleasure. A roupa que eu iria usar na boate, trocava na casa
dela. A família dela não se importava e nunca contou a minha. April sempre me
ajudou a mentir para meus pais. Minha irmã mais nova, Rachel, de treze anos
também os acompanhava. Ela tinha um metro e cinquenta e seis de altura. Era
branca e magra. Seus cabelos eram longos e castanhos. Tinha olhos azuis lindos
como o céu. Seu nariz era um pouco pontiagudo, mas tinha um rostinho que
parecia ser de porcelana.
- Eu juro
que posso explicar. –falei levantando as mãos como se faz quando é abordado por
um criminoso.
- Com essa
roupa?
Eu era fruto
da primeira relação matrimonial de minha mãe. Parecia com ela, pois era negra, magra
- pesava apenas cinquenta quilos-, meus cabelos eram pretos e encaracolados,
mas não passavam dos meus seios. Tinha que admitir: possuía belos e grandes
seios. Meu nariz era pequeno e achatado na ponta. Usava uma blusa com alças Pink, uma minissaia jeans e saltos rosa
claro. Não gostava de usar maquiagem, pois acreditava que as mulheres deveriam
expor a beleza natural que possuíam. Rachel, minha irmãzinha, era fruto do
segundo casamento de George, nosso pai. Comportávamos-nos como uma verdadeira
família no quesito união. Meus pais eram muito unidos.
- Vamos pra
casa agora, mocinha!
- Pai...
- Eu não
acredito que você está mesmo insistindo em ficar, Tracy. –gritou minha mãe
revoltada.
Fiquei em
silencio, abaixei a cabeça e fui indo para o carro, estacionado a poucos metros
da Pleasure. Era um calhambeque preto. Eles vieram logo atrás. Eu e Rachel
ficamos no banco traseiro. Meu pai deu a partida e saímos.
- Estou
decepcionada com você, Tracy. Muito decepcionada. –falou-me através do
retrovisor.
- Era apenas
uma boate, mãe.
Colocando a
mão esquerda na testa, afirmou:
- Céus! Eu
não estou ouvindo isso. –minha mãe estava indignada.
- São as
amizades dela, Tânia. Companhias más corrompem bons costumes. – Estranhamente
meu pai não estava tão bravo como ela.
A Pleasure
ficava na entrada da cidade, mas as casas ficavam alguns quilômetros após. Nossa
casa ficava muito distante, mas como eu e April pegamos carona com uns caras,
nem me importei. A estrada era repleta de
árvores grandes, o que a noite, como agora, deixava-a muito assustadora. Não
havia ninguém alem de nós ali. O silencio reinava dentro e fora do calhambeque.
Fiquei repensando minha atitude. Não me considerava errada, afinal só queria me
divertir. Além dos mais na primeira oportunidade estaria de volta a boate. Não
muito longe, avistamos um homem. Ao ver nosso carro, acenou.
- Papai é
melhor não parar. –minha irmã menor, Rachel, era muito medrosa. Falou
bocejando, pois estava sonolenta e dormiu rapidamente depois de falar.
- Não
precisa ter medo, querida.
O homem era
velho e aparentava ter uns quarenta e dois anos. Era calvo com o rosto cheio de
traços e rugas. O bigode era a estilo the moustache. A testa era muito marcada, aparentando estar
sempre franzida. Possuía uma bolinha atípica no meio da mesma. As sobrancelhas
eram pequenas e bem feitas. As orelhas, minúsculas. A cor dos cabelos e bigode
lembrava o grisalho. Não conseguir ver muito bem a cor dos olhos, mas parecia
cor de mel. O meio da cabeça dele era de fato vazio, dando a impressão de
possuir chifres. Seu olhar me assustava, tanto quanto o sorriso que fez assim
que meu pai parou.
- Posso ajudar
senhor?
- Não sei como, mas
meu carro derrapou e saiu da pista, indo parar entre essas arvores há alguns
metros daqui. Pode me ajudar? –Não acreditava nesse velho. Para completar sua
voz era muito grossa, o que dificultava ainda mais confiar nele. Porque um
idoso, sozinho, estaria a andar a carro, correndo risco de morte e à uma hora
dessas? Além disto, estava muito escuro. Havia apenas a luz da lua.
- Claro. –eu não
estava acreditando no que ouvira. Sempre víamos nos noticiários e jornais
pessoas mortas das mais bizarras formas por assassinos em série, mas como nossa
família era puritana, logo meus pais deviam estar tentando “ajudar ao próximo”.
- Entre e lhe
levamos até lá. –neste instante meu pai destravou a porta e ele entrou.
Sentou-se justamente ao meu lado direito, no esquerdo estava Rachel dormindo.
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