domingo, 14 de setembro de 2014

Capitulo 1


A noite estava uma maravilha. A balada permanecia minha melhor maneira de escoar problemas. Sério, não havia melhor opção. Música alta e empolgante, caras para lá de lindos, muita bebida, e pra finalizar a queridinha. Estava sentada numa das mesas que ficava situada no meio da Pleasure. A boate –cujo nome significa prazer- era a mais procurada de toda Medford. Sua estrutura lembrava um prédio. Possuía apenas dois andares, sendo o segundo vip. Tudo era cor de rosa, desde a coloração das paredes a farda dos funcionários. O logotipo era o nome da boate estampado no terraço, como um grande outdoor brilhante cor de rosa. Era repleta de strippers atraentes a todos os gostos. Havia dez polidances na parte inferior. A superior continha treze. O consumo de drogas era licito lá dentro, o que cunhou a frase: “no seio da Pleasure, todos os prazeres são permitidos.” A noite de hoje era dedicada aos gays. Os strippers estavam fantasiados de policiais e a batida da musica, eletrônica, era similar a uma sirene. Meus pais, muito religiosos e conservadores, não me permitiam estar naquele ambiente. Mas eu, claro, sempre dava um jeito. Ia tanto que passei a ser cliente vip.

- Tracy, você não vai acreditar! –April era minha melhor amiga e sempre vínhamos juntas pra boate. Ambos tínhamos dezessete anos. Era uma loira de cabelos curtos, magra, branca, media mais ou menos um metro e setenta e cinco de altura. Seus seios deixavam a desejar, mas era recompensada com um bumbum enorme e belas pernas. Seus lábios eram grossos e seu nariz reto e grande, o que a fazia desejar uma rinoplastia para modifica-lo. Os olhos eram castanhos e um pouco juntinhos demais. Estava com um batom vermelho forte e uma sombra preta nos olhos. Usava uma minissaia –e coloque minúsculo nisto- de mesma cor do batom. A blusa, num estilo “tomara que caia”, era branca. Por fim calçava um par de saltos altos de cor preta. –Um cara muito gostoso acaba de me chamar pra casa dele. O que será que ele quer que a gente faça? –ficou me olhando com uma expressão muito sensual e irônica.

- Você não presta, concorda? –dei uma “tapinha” de leve em suas mãos. April era muito bacana, mas ia pra cama com qualquer um. Isso, porém, nunca afetou nossa amizade, afinal também não tinha nada de santa. Quase todas as vezes que vinha para Pleasure, traia meu namorado Jordan. Não que o amor tivesse acabado apenas não resistia a certos homens.

- É claro que eu presto. Mas é evidente que não perderei essa oportunidade. –disse-me sorrindo e sentando na cadeira que me ficava defronte.

- Fale mais sobre ele.

- Eu conheci o cara há uns dez minutos, Tracy. Quer o que?

- Desde quando isso lhe impediu? –nada nunca a atrapalhou de ficar com homens.

- Depois eu que não presto, né?... –inclinou a cabeça e fez “biquinho”. –Bom, ele é alto, branco, musculoso,- me fez um olhar muito obsceno e falou esta palavra de forma mais acentuada. –Tem cabelos pretos num corte meio que social. Esta usando uma jaqueta marrom e percebi que o carro que dirige é uma picape vermelha. –a velocidade com que ela guardava os atributos dos homens que conhecia me era espantosa. –Como poderia esquecer: tem olhos azuis e uma expressão facial de homem duro e rigoroso, como aqueles soldados do Exército. Isso me excita muito. Sério. Nunca dormi com homens assim.

Entrei em crise de risos e comecei a bater palmas.

- Minha noite hoje será nas estrelas! –gritou April sacudindo a cabeça e os braços. Eu ainda continuava rindo, agora, porém, escandalosamente.

- Há! Ele disse que tem queridinha suficiente para nós duas. –não acredito. Ele tem?! Era viciada em queridinha, que nada mais era que uma forma carinhosa de como chamávamos a cocaína. Conheci a droga aos quinze quando fui a uma festa na casa de April, no ano de 2007. Hoje aos dezessete, intensifiquei o uso e era praticamente viciada. Meus pais não faziam ideia de que não era mais virgem ou visitava a boate, quanto mais isto!

- Ele vai lhe dá?! –ou esse homem era muito generoso, um anjo de Deus, ou estava mentindo para levá-la pra cama. –Você tem certeza disso? Ele pode estar blefando.

- Não está. Eu vi.

- Ai meu Deus! –coloquei minha mão na boca, espantada. Teríamos queridinha de graça.

- Ficaremos de boa essa semana, companheira! –abraçou-me rindo e gritando novamente. Retornei a gritar de alegria.

A música estava bem alta, quando finalmente o homem que April tanto falara chegou até onde nos encontrávamos.

- April. –a voz dele de fato lembrava aqueles caras rígidos do Exercito. Ela se esqueceu de mencionar que ele possuía olheiras e algumas rugas em torno das bochechas. Tinha um sotaque estranho, do qual não sabia identificar de onde era. Suas sobrancelhas eram grandes e grossas, de forma que era quase uma só. Aparentava ser um bom pai de família que decidira trair a esposa e curtir com mulheres mais jovens.

- Já vai? –perguntou aparentando não querer ir no momento.

- Já. Vamos. –falou de forma autoritária. Parecia estar dando ordens a ela. Comecei então a olha-lo diferente. - Vamos! –desta vez reforçou e falou ainda mais alto e grosso.

- Já vou, Tray. –esse era o apelido carinhoso que ela me chamava. April se levantou e foi-se indo ao lado dele. Era estranho, mas sentia algo anormal, como um pressentimento de que algo ruim iria acontecer ainda naquela noite.

- April! –gritei. Não ignoraria aquele sentimento. –Eu vou com vocês até a porta.

- Não precisa. –disse-me de forma grossa o tal homem.

- Eu vou. –afirmei resoluta.

April parecia não entender aquela cena. Acompanhei-os até a picape vermelha, embora ao passar da porta, o homem novamente olhou-me como se dissesse: “não deveria vim só até aqui?”. Finalmente me toquei que nem o nome dele sabíamos.

- Como se chama? –perguntei. Não podia deixar minha melhor amiga sair com um cara que nenhuma de nós sabia o nome. No entanto, assustava-me o fato dela não se preocupar com isso. April começou a encará-lo como se também esperasse a resposta.

- Joseph.

- Tá. –disse April despreocupada, abriu a porta da picape e entrou. Joseph, por sua vez, foi mexer no fundo do carro. A picape era velha com pneus desgastados. Na traseira tinha sinais de acidente. Pude observar que a carroçaria tinha algumas cordas velhas, fios de arame novinhos, sacos plásticos de cor preta cheios e umas dez caixas pelo que pude contar. Inquietou-me o fato de ter aquelas coisas andando com ele. Joseph não parecia ser de Medford, onde morávamos.

Medford era a segunda principal cidade de Oregon, um dos cinquenta estados, dos Estados Unidos, ficando atrás apenas da cidade de Eugene. Oregon era rico em áreas vegetativas, como jardins, florestas e bosques. Considerado um dos maiores lugares “verdes” do planeta, ficava vizinho a Washington, a capital do país. As florestas em perenifólias, ou seja, arvores com folhas resistentes de inverno a inverno, o que fazia ficarem muito populares. Possuía também muitos rios e lagos, além de um nível estável e gracioso de chuva. Suas produções madeireiras correspondiam a dez por cento de todo os Estados Unidos. Oregon detinha maravilhosas e abundantes belezas naturais, o que fazia-nos orgulhosos e preocupados com o meio ambiente. O clima era temperado, com as quatro estações bem distintas.

- A gente se vê amanhã? –perguntou-me April ainda alegre.

- Sim. –já não respondi feliz. Sentia algo muito ruim. Joseph, dando a volta, entrou no carro e deu a partida. Fiquei vendo-os ir se afastando até que o carro saiu do alcance de minha percepção completamente.
- Olha quem está aqui, Tânia! –essa voz me era familiar. Vir-me-ei e... –Pai? Mãe? –estavam pasmos e boquiabertos.

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