A noite
estava uma maravilha. A balada permanecia minha melhor maneira de escoar
problemas. Sério, não havia melhor opção. Música alta e empolgante, caras para
lá de lindos, muita bebida, e pra finalizar a queridinha. Estava sentada numa
das mesas que ficava situada no meio da Pleasure.
A boate –cujo nome significa prazer- era a mais procurada de toda Medford. Sua
estrutura lembrava um prédio. Possuía apenas dois andares, sendo o segundo vip.
Tudo era cor de rosa, desde a coloração das paredes a farda dos funcionários. O
logotipo era o nome da boate estampado no terraço, como um grande outdoor
brilhante cor de rosa. Era repleta de
strippers atraentes a todos os gostos. Havia dez polidances na parte inferior. A superior continha treze. O consumo
de drogas era licito lá dentro, o que cunhou a frase: “no seio da Pleasure,
todos os prazeres são permitidos.” A noite de hoje era dedicada aos gays. Os strippers estavam fantasiados de policiais e a batida da musica, eletrônica, era similar a uma sirene. Meus pais,
muito religiosos e conservadores, não me permitiam estar naquele ambiente. Mas
eu, claro, sempre dava um jeito. Ia tanto que passei a ser cliente vip.
- Tracy,
você não vai acreditar! –April era minha melhor amiga e sempre vínhamos juntas
pra boate. Ambos tínhamos dezessete anos. Era uma loira de cabelos curtos,
magra, branca, media mais ou menos um metro e setenta e cinco de altura. Seus
seios deixavam a desejar, mas era recompensada com um bumbum enorme e belas
pernas. Seus lábios eram grossos e seu nariz reto e grande, o que a fazia
desejar uma rinoplastia para modifica-lo. Os olhos eram castanhos e um pouco
juntinhos demais. Estava com um batom vermelho forte e uma sombra preta nos
olhos. Usava uma minissaia –e coloque minúsculo nisto- de mesma cor do batom. A
blusa, num estilo “tomara que caia”, era
branca. Por fim calçava um par de saltos altos de cor preta. –Um cara muito
gostoso acaba de me chamar pra casa dele. O que será que ele quer que a gente
faça? –ficou me olhando com uma expressão muito sensual e irônica.
- Você não
presta, concorda? –dei uma “tapinha” de leve em suas mãos. April era muito
bacana, mas ia pra cama com qualquer um. Isso, porém, nunca afetou nossa
amizade, afinal também não tinha nada de santa. Quase todas as vezes que vinha
para Pleasure, traia meu namorado Jordan. Não que o amor tivesse acabado apenas
não resistia a certos homens.
- É claro
que eu presto. Mas é evidente que não perderei essa oportunidade. –disse-me
sorrindo e sentando na cadeira que me ficava defronte.
- Fale mais
sobre ele.
- Eu conheci
o cara há uns dez minutos, Tracy. Quer o que?
- Desde
quando isso lhe impediu? –nada nunca a atrapalhou de ficar com homens.
- Depois eu
que não presto, né?... –inclinou a cabeça e fez “biquinho”. –Bom, ele é alto,
branco, musculoso,- me fez um olhar muito obsceno e falou esta palavra de forma
mais acentuada. –Tem cabelos pretos num corte meio que social. Esta usando uma
jaqueta marrom e percebi que o carro que dirige é uma picape vermelha. –a
velocidade com que ela guardava os atributos dos homens que conhecia me era
espantosa. –Como poderia esquecer: tem olhos azuis e uma expressão facial de
homem duro e rigoroso, como aqueles soldados do Exército. Isso me excita muito.
Sério. Nunca dormi com homens assim.
Entrei em
crise de risos e comecei a bater palmas.
- Minha
noite hoje será nas estrelas! –gritou April sacudindo a cabeça e os braços. Eu
ainda continuava rindo, agora, porém, escandalosamente.
- Há! Ele
disse que tem queridinha suficiente para nós duas. –não acredito. Ele tem?! Era
viciada em queridinha, que nada mais era que uma forma carinhosa de como chamávamos
a cocaína. Conheci a droga aos quinze quando fui a uma festa na casa de April,
no ano de 2007. Hoje aos dezessete, intensifiquei o uso e era praticamente
viciada. Meus pais não faziam ideia de que não era mais virgem ou visitava a
boate, quanto mais isto!
- Ele vai lhe
dá?! –ou esse homem era muito generoso, um anjo de Deus, ou estava mentindo
para levá-la pra cama. –Você tem certeza disso? Ele pode estar blefando.
- Não está.
Eu vi.
- Ai meu
Deus! –coloquei minha mão na boca, espantada. Teríamos queridinha de graça.
- Ficaremos
de boa essa semana, companheira! –abraçou-me rindo e gritando novamente.
Retornei a gritar de alegria.
A música
estava bem alta, quando finalmente o homem que April tanto falara chegou até onde
nos encontrávamos.
- April. –a
voz dele de fato lembrava aqueles caras rígidos do Exercito. Ela se esqueceu de
mencionar que ele possuía olheiras e algumas rugas em torno das bochechas.
Tinha um sotaque estranho, do qual não sabia identificar de onde era. Suas
sobrancelhas eram grandes e grossas, de forma que era quase uma só. Aparentava
ser um bom pai de família que decidira trair a esposa e curtir com mulheres
mais jovens.
- Já vai?
–perguntou aparentando não querer ir no momento.
- Já. Vamos.
–falou de forma autoritária. Parecia estar dando ordens a ela. Comecei então a
olha-lo diferente. - Vamos! –desta vez reforçou e falou ainda mais alto e
grosso.
- Já vou, Tray.
–esse era o apelido carinhoso que ela me chamava. April se levantou e foi-se
indo ao lado dele. Era estranho, mas sentia algo anormal, como um
pressentimento de que algo ruim iria acontecer ainda naquela noite.
- April! –gritei.
Não ignoraria aquele sentimento. –Eu vou com vocês até a porta.
- Não
precisa. –disse-me de forma grossa o tal homem.
- Eu vou.
–afirmei resoluta.
April
parecia não entender aquela cena. Acompanhei-os até a picape vermelha, embora
ao passar da porta, o homem novamente olhou-me como se dissesse: “não deveria
vim só até aqui?”. Finalmente me toquei que nem o nome dele sabíamos.
- Como se
chama? –perguntei. Não podia deixar minha melhor amiga sair com um cara que
nenhuma de nós sabia o nome. No entanto, assustava-me o fato dela não se
preocupar com isso. April começou a encará-lo como se também esperasse a
resposta.
- Joseph.
- Tá. –disse
April despreocupada, abriu a porta da picape e entrou. Joseph, por sua vez, foi
mexer no fundo do carro. A picape era velha com pneus desgastados. Na traseira
tinha sinais de acidente. Pude observar que a carroçaria tinha algumas cordas
velhas, fios de arame novinhos, sacos plásticos de cor preta cheios e umas dez
caixas pelo que pude contar. Inquietou-me o fato de ter aquelas coisas andando
com ele. Joseph não parecia ser de Medford, onde morávamos.
Medford era a
segunda principal cidade de Oregon, um dos cinquenta estados, dos Estados
Unidos, ficando atrás apenas da cidade de Eugene. Oregon era rico em áreas
vegetativas, como jardins, florestas e bosques. Considerado um dos maiores
lugares “verdes” do planeta, ficava vizinho a Washington,
a capital do país. As florestas em perenifólias, ou seja, arvores
com folhas resistentes de inverno a inverno, o que fazia ficarem muito
populares. Possuía também muitos rios e lagos, além de um nível estável e
gracioso de chuva. Suas produções madeireiras correspondiam a dez por cento de
todo os Estados Unidos. Oregon detinha maravilhosas e abundantes belezas
naturais, o que fazia-nos orgulhosos e preocupados com o meio ambiente. O clima
era temperado, com as quatro estações bem distintas.
- A gente se
vê amanhã? –perguntou-me April ainda alegre.
- Sim. –já
não respondi feliz. Sentia algo muito ruim. Joseph, dando a volta, entrou no
carro e deu a partida. Fiquei vendo-os ir se afastando até que o carro saiu do
alcance de minha percepção completamente.
-
Olha quem está aqui, Tânia! –essa voz me era familiar. Vir-me-ei e... –Pai?
Mãe? –estavam pasmos e boquiabertos.
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